Naquela manhã, o homem levantou-se, tomou o pequeno-almoço, pôs a trela ao cão e saiu de casa. O cão abanava a cauda, celebrava o simples facto de estar vivo, talvez tivesse dado uma lambidela na mão do homem. Mas aquele não era um passeio como os outros.
O homem ia entregar o cão no canil. No canil de abate.
O homem sabe, embora parte do cérebro dele finja que não, que o canil municipal é, salvo raras excepções, o sítio onde os cães e os gatos, muito mais do que adoptados, são abatidos. Muitas vezes mortos no próprio dia ou no seguinte.
O cão não chegou a entrar no canil de abate. O cão é este. E foi acolhido na União Zoófila.
O cão, a que chamámos Simba, tem cerca de um ano. É saudável. Belo. Brincalhão. E ansioso. Ele não percebe o que lhe aconteceu. Ele odeia a boxe onde vive. Ele sente a falta de quem quis entregá-lo para abate. Ele chora pelo homem que, naquela manhã, se levantou para conduzir o seu mais fiel amigo à morte.
Que tipo de homem ou mulher mata um amigo? É preciso que nos protejamos, também nós, os seres humanos, de gente assim.
Os cães e as demais criaturas não humanas não existem para nos servir ou enquanto nos servem.
Os cães não são objectos. Não são objectos de consumo.
Os cães, e as demais criaturas, têm valor intrínseco.
O Simba está profundamente infeliz. Não conseguimos fazê-lo entender que ele não existe para servir alguém, muito menos o homem que quis levá-lo à morte.
O Simba está desesperado.
O Simba suplica a atenção humana, o toque humano.
O Simba não merece o que lhe aconteceu. Nenhum deles merece.
O Simba está disponível para que o conheçam e venham a adoptar ou apadrinhar na União Zoófila.
Os cães ao cuidado da União Zoófila podem ser visitados todos os dias, também sábados, domingos e feriados, entre as 14h00 e as 17h00. Dias de adopção de cães são as quartas-feiras e os sábados.
Por favor, não se esqueçam do Simba. (Dói ouvi-lo ganir dentro da boxe)