Imaginemos que eles podiam contar-nos com palavras a história deles e o Sinatra diria ao Miguel, o voluntário com quem primeiro estabeleceu ligação na União Zoófila:
‘… e depois deixaram-me na rua e chovia e eu fiquei sozinho na rua. Eu. Sozinho. Na rua. Debaixo da chuva.’
Foi assim que o encontrámos. Na rua. Numa manhã de chuva, a ele, um gato que seguramente viveu antes numa casa.
Inicialmente muito desconfiado, o Serafim ligou-se ao Miguel e é assim que agora olha para ele e lhe conta o que lhe aconteceu antes de ser acolhido na União Zoófila.
E o Miguel consola-o, diz-lhe que já passou, que nada receie, que vai seguramente encontrar uma família a sério, capaz de dar valor a tão extraordinários bigodes.
É uma conversa sem palavras. Mas é uma conversa importante. De dois amigos.
O Sinatra é este gato lindo e triste. Está disponível, na União Zoófila, para dar uma segunda oportunidade a seres humanos, desde que seja capazes de entender a dor que ele traz dentro e que nunca, em circunstância alguma, dê a vida as volta que der, o deixe sozinho na rua.