Só não vê quem não quer ou não tem tempo para pensar sobre o que vê. Na União Zoófila, o trabalho é tanto e somos tão poucos que, também nós, muitas vezes não vemos ou não pensamos sobre o que vemos. Mas desta vez, o Miguel estava lá e viu. E foi capaz de pensar sobre o que estava a ver e fotografou, para que também aqui pudéssemos ver e pensar sobre o que vemos.
O Serafim é o gato tigrado, à esquerda. O Serafim é um gato de rua, onde sempre foi alimentado e cuidado. Somos tão, tão gratos a quem alimenta e cuidada de animais de rua
O Serafim envelheceu. E ficou doente. Tão doente que não era capaz de comer devidamente.
O Serafim foi acolhido na União Zoófila. E ali tem sido tratado.
Bem sabemos que não é feliz no gatil, mas também não podemos devolvê-lo à rua – não teria qualquer hipótese de sobrevivência, considerando o estado em que se encontra.
O Serafim está doente, triste e revoltado.
O Serafim não quer nada com os seres humanos.
Não desistimos de convencê-lo a brincar connosco ou, pelo menos, tolerar-nos, mas temos um longo caminho a percorrer antes que tal aconteça.
O Serafim está triste. E o Batatinha sabe disso.
O Batatinha é o gato preto encostado ao Serafim. Os dois partilham o mesmo gatil.
Quem conhece os gatis da União Zoófila sabe que, embora precários, são amplos e há camas espalhadas por todos os cantos.
Há muitas camas em todos os gatis. O Batatatinha podia ter-se deitado em tantos outros sítios. Tantos.
O Batatinha aconchegou-se perto do Serafim. E ficou ali, junto dele, dizemos nós, a consolá-lo.
Reconhecer aos outros animais capacidade de afecto e empatia não nos tira nada, nem um bocadinho, de humanidade.
Reconhecer que, embora num grau diferente, partilhamos com os outros animais a capacidade de sentir torna-nos mais humanos. Não menos.
O Serafim e o Batatinha estão disponíveis para que os conheçam e venham a adoptar na União Zoófila. Vale a pena conhecê-los! E pensar…